segunda-feira, 15 de fevereiro de 2021

A DIFICULDADE DA SENSATEZ

 Padre José Eduardo 


Frequentemente, vejo pessoas acusando os outros de polarização, quando elas mesmas são professas de algum dos pólos; outros têm o hábito desonesto de sempre se colocarem num cômodo centro enquanto decidem quem está de um lado e quem está do outro.


Abundam as “lições de moral” e os autoritarismos retóricos, mas sobretudo superabundam aqueles que não enxergam a realidade por detrás dos rótulos, reduzindo o universo inteiro ao seu curto menu de figuras mentais.


É cansativo lidar com gente que não lhe leva a sério e sempre lhe escuta dando um desconto de 80% unicamente porque decidiu lhe reduzir a este ou aquele espantalho ideológico. Geralmente, pessoas que se dão a liberdade de ser ecléticas, de trafegar por todas as direções, são continuamente desprezadas e tratadas com desconfiança, até que alguém bata o seu carimbo jurídico e as reduza a esta ou aquela filiação partidária, relegando-as ao cancelamento compulsório.


O mundo emburreceu demais e quase mais ninguém consegue perceber que ninguém é inteiramente monocromático. Todo mundo tem algo de vanguardista ou qualquer mania meio retrógrada. As variações fazem parte da vida, assim como as transitoriedades e a flexibilidade de perceber que há valores que transcendem torcidas: os canalhas se distribuem por todas as partes, bem como as pessoas honestas; delinquência não tem anistia filosófica; e bondade, justiça e equilíbrio são virtudes de pessoas concretas, não de ideias soltas no ar – desista, a tua causa não te justifica!


Parece que a sensatez virou um luxo e a pressa de ser a favor e contra substituiu a capacidade de discernir que há um misto de acertos e erros em quase todas as situações humanas e que apenas pessoas muito abertas conseguem ter a sinceridade de saber quando é hora de parar e quando é hora de continuar, quando é hora de virar o disco e quando é hora de reiniciar a música.


Em tempos de confusão, os abstencionismos vão tão de moda quanto os sufraguismos, ambos tão integrais quanto acríticos e fanáticos. Falta gente que pondere, ou seja, que pese cada opinião e conceda a parte de razão que cada uma tem. Por que, em questões opináveis, todos têm que estar totalmente certos ou totalmente errados sempre? Bem… Afinal de contas talvez o problema mesmo seja o homem lúcido, que se vê fadado a dar-se razão e a negar-se-a quase tantas vezes quantas diz qualquer coisa.


Num mundo de infalíveis, é realmente difícil ser um ser humano corriqueiro, que precisa pedir desculpas e reconhecer humildemente algum erro. É mais fácil posar de onisciente e inabalável… Vai que alguém acredita, né?


https://www.facebook.com/100000060720957/posts/5355830077762297/?d=n

Muita bobagem e muita burrice!

O Bradesco lança e retira imediamente uma propaganda com requintes brutos de burrice. Três senhoras, nada entendidas do assunto, passam dica...